Apartment building in Moema (Nomad) – Retrofit

City
São Paulo - SP
Project
2013 - 2017
Construction
2017 - 2019
Architecture
Angelo Bucci

Tatiana Ozzetti
Victor Próspero
Nilton Suenaga
Beatriz Marques
Lucas Roca
Felipe Barradas
Martha Bucci

Vitor Endo
Daniela Zavagli
Beatriz Brandt
Larissa Oliveira
Raquel Leite
Miguel Arturo Croce
Paula Dal Maso
Team
PAISAGISMO
Raul Pereira Arquitetos Associados

INTERIORES
Superlimão
(Thiago Rodrigues)

FACHADAS
Artista Plástico Consultor
Antônio Hélio Cabral

MODELO ELETRÔNICO
Ricardo Canton

INCORPORAÇÃO
SKR

ÁREA DO TERRENO
801,49 m²

ÁREA CONSTRUÍDA
4.831,24 m²

Files

O projeto do edifício NOMAD — localizado à Avenida Jurucê, 194, bairro de Indianópolis, em São Paulo — trata-se de uma reforma com mudança de uso. O prédio original foi construído para uso comercial durante os anos 1980. Fez parte do processo de transformação daquele bairro, marcado por uma onda de investimentos imobiliários que substituiu as habitações unifamiliares por edifícios verticais, na sua maior parte para uso residencial, e transformou a feição urbana daquela região da cidade.

Quatro décadas depois a transformação iniciada pelos negócios privados foi acompanhada pela infra-estrutura pública, sobretudo transportes, com corredor de ônibus e linha de metrô pelo eixo da avenida Ibirapuera e sistema de ciclovias, que multiplicaram os modos de transporte e reduziram os tempos de deslocamento do bairro na sua relação com a cidade. Mas, ao mesmo tempo, novos paradigmas, sobretudo de conectividade, permitiram um sensível realinhamento do modo de vida também dentro das casas. Nesse campo, conectividade, a transformação ocorrida nos últimos quarenta anos tem ainda muito mais impacto.

Evidentemente a SKR estava atenta às possibilidades e oportunidades deste novo cenário quando vislumbra, por intuição - porque ainda antes de dar início ao desenvolvimento de um projeto -, a possibilidade de transformação daquele antigo edifício de escritório. A fim de expor o que se procurou fazer ali num sentido mais abrangente, de modo que se possa compreender o conjunto das ações que extrapolam o âmbito intrínseco do projeto de arquitetura e traga ao alcance da vista a multiplicidade dos sujeitos que ali trabalharam nas diversas instâncias do “desenho” compõe o resultado do que se vê cristalizado no edifício, talvez valha a licença de uma comparação, como se fossem dois campos de ação ou mais uma dualidade típica da própria arquitetura. Nela o edifício corresponderia ao hardware; enquanto a série de serviços que se desenvolveu como ativadores da vida em condomínio e acesso a serviços seria o software. Em parte, esta última palavra é literal, uma vez que de fato foi contratada uma empresa para desenho do programa de um aplicativo de celular para esta finalidade específica.

Mas a percepção desta possibilidade abriu também ao desenvolvimento de outros conceitos que configuraram espaços comuns muito oportunos mas ainda não usuais em edifícios de apartamentos, como área de trabalho compartilhada ou a configuração do térreo como um estar - inclusive com cozinha aberta para eventos, de uso comum aos moradores. São extensões da casa que tendem a equilibrar a área exígua das unidades de habitação. Os interiores, feitos com extrema dedicação e competência pela SuperLimão, embora eminentemente arquitetônico, vibra entre aqueles dois campos conferindo-lhes unidade.

No que diz respeito ao âmbito daquilo que se fez, SPBR, na transformação arquitetônica do edifício existente, a primeira decisão foi sem dúvida a mais relevante: não demolir. A opção por transformar têm diversas razões de ordem prática e econômica, mas hoje ganha relevância também pelos preceitos de sustentabilidade.

A partir disso, o desenho se guiou pelas possibilidades no diálogo tipológico, que se manifesta como contrastes, entre o edifício de escritórios e o edifício de moradia típicos no contexto da cidade de São Paulo. São aspectos ordinários, mas ganham relevância nas soluções. A saber:

1. Andares livres de interferências estruturais; aquilo que se denomina escritório panorâmico e permite variações nos arranjos internos dos andares sem qualquer impacto na estrutura do edifício. Isso quer dizer que para um prédio de escritórios, em comparação com um prédio de apartamentos, o consenso assume como solução padrão vãos entre pilares maiores e também maior disciplina nas instalações hidráulicas de modo a liberar as plantas internas. Vemos a premissa como uma qualidade intrínseca independentemente do seu uso, portanto tínhamos ali uma qualidade que normalmente não se encontra num típico edifício de apartamento. Inicialmente queríamos torná-la ainda mais evidente fazendo apartamentos com áreas maiores para que a virtude construtiva tivesse expressão arquitetônica visível no espaço da moradia. Não foi assim por questões do mercado. De todo modo, aquela condição foi crucial para dar liberdade aos arranjos de plantas;

2. Altura livre interna; é também de consenso que a altura de piso a laje dos edifícios de escritórios seja maior, por conta das instalações sobretudo dos sistemas de ar condicionado, do que normalmente se aceita para os apartamentos que ficaram padronizados no mínimo de dois metros e meio. Ali tínhamos três metros de altura livre o que é notável para moradia, sobretudo quando são apartamentos pequenos, como é o caso;

3. Dimensão das aberturas nas fachadas; também aqui o contraste tipológico é notável. E, naturalmente, tomamos como vantagem as generosas aberturas de luz que resultam quando se transforma um edifício de escritórios em apartamentos. Foi possível ainda ampliá-las baixando o peitoril até perto da altura do piso de modo que se destaca a relação dos apartamentos com a rua e o chão. Mas é também preciso lembrar que neste aspecto, sendo a fachada a expressão pública da arquitetura dos edifícios verticais, que esta clara distinção tipológica tende a moldar por antecipação as expectativas estéticas. Um prédio de escritório e outro de habitação tem feições diferentes. A questão tão simples se torna delicada. O dilema era uma boa oportunidade de desenho, pois o resultado não poderia simplesmente manter uma linguagem de arquitetura comercial, tampouco queria se revestir o edifício com uma nova fachada tipicamente residencial. Por isso o cuidado e a justificava em se desenhar algo que não se encontra num ou noutro tipo.

Por opção construtiva e para maximização das aberturas os novos quadros de caixilharia foram sobrepostos à fachada externa do edifício; além disso, as folhas de vidro foram parcialmente protegidas da luz e calor por painéis cimentícios com agregados de serragem de madeira em tons, todos naturais, mas sutilmente distintos, perfurados de modos a criar uma atmosfera próxima das tradicionais venezianas. O tratamento da superfície das alvenarias de fachada foi feito com a solução corrente de massa pigmentada. O luxo foi a participação de um notável artista plástico, Hélio Cabral, que desenhou planos sobriamente coloridos nas alvenarias que, mesmo estáticas, imprimem maior ritmo ao movimento dos painéis cimentícios corrediços.

O NOMAD foi um pequeno empreendimento feito pela SKR num período em que o mercado estava muito desaquecido. Acredito que foi o tempo alargado pela recessão que nos deu oportunidade de estar em diálogo com eles e, sobretudo, que nos deu prazo para explorar possibilidades de modo mais livre do que normalmente o mercado encontra tranquilidade para fazer. A frase batida de a crise abre oportunidade parece ter se confirmado aqui no fato de que a SKR soube fazer deste pequeno edifício um ensaio para a intuição que acalentavam desenvolver ferramentas de ativação de um novo modo de morar. O software, muito além do aplicativo que eles desenvolveram ali, onde o momento e a escala permitiram o ensaio, certamente estará desdobrado em muitos outros projetos bem maiores que eles têm em desenvolvimento.